O Homem das Multidões


Dentre os filmes brasileiros, concorrentes da Première Brasil Competição de Ficção - Longas, do Festival do Rio 2013, o destaque é para “O Homem das Multidões” (2013), de Marcelo Gomes e Cao Guimarães. Livremente inspirado no conto de Edgar Allan Poe (The Man of the Crowd, 1840), narra a história de um homem que gosta de observar as pessoas que circulam pela multidão de uma grande metrópole.

O filme chama a atenção desde o início ao se apresentar na tela em um formato 3x3, como se fosse um retrato polaróide. É dentro desse pequeno recorte que é exposta a narrativa de Juvenal (Paulo André), um maquinista de trens de uma estação ferroviária de Belo Horizonte. Juvenal mora em um apartamento de uma sala comercial, quase sem móveis, sem TV, sem comida na geladeira, sem plantas, animal de estimação e até mesmo copos. Sua vida se resume ao trabalho, que desempenha com perfeição e apreço.

A estabilidade da cômoda solidão que vivencia é interrompida quando sua supervisora (Sílvia Lourenço), que está noiva, lhe convida para ser padrinho do seu casamento. E mesmo prestes a casar, ela também demonstra ser uma pessoa solitária, que se refugia no mundo virtual proporcionado por certas plataformas tecnológicas, tendo, inclusive, conhecido seu noivo pela internet.

Marcelo Gomes parece realmente gostar de dirigir em parceria. Já havia feito anteriormente, o igualmente primoroso, “Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo” (2009), em conjunto com Karim Ainouz. Cao Guimarães é um cineasta e artista plástico, cujos filmes exaltam a busca pela beleza das imagens captadas. Inclusive, esse parece ser o fechamento de sua trilogia sobre a solidão, iniciada com os filmes “A Alma do Osso” (2004) e “Andarilho” (2006). E o seu estilo demonstra se alinhar muito bem com o de Marcelo. A direção dos dois resulta numa perfeição quase que simétrica das imagens que vemos na pequena tela dentro da tela. Não é à toa que ambos levaram o prêmio de Melhor Direção no Festival do Rio 2013.

A construção narrativa nos apresenta esses dois personagens extremamente solitários e que, ao mesmo tempo, conseguem e não conseguem estabelecer uma relação. Afinal, como alcançar uma conexão se ambos possuem a solidão em comum? É justamente nessa atmosfera paradoxal que o filme circula. Há uma cena em que a supervisora encontra com seu noivo num restaurante, no entanto, não vemos o rosto dele. É como se ele não existisse. Até mesmo depois, na festa do casamento, ele também não nos é mostrado. Só conhecemos o seu pai, com quem ela mora e que também aparenta ser um senhor solitário e, coincidentemente (ou não), é fisicamente parecido com Juvenal. Ou seja, a relação (ou a falta dela) só existe entre aqueles que dividem o mesmo sentimento de isolamento.

A produção ainda não tem data de estreia, e talvez seja um tanto quanto difícil entrar em circuito comercial devido essa questão da proposta do recorte da imagem, porém, vale a torcida para que a solidão e isolamento reservado aos personagens seja apenas dentro do seu contexto narrativo ficcional e não ao contexto de distribuição do filme.

Comentários

Unknown disse…
Lalá,

vê-los-ei!

Bjs

Puppin