Oscar 2014


A partir de uma ideia do presidente dos estúdios da Metro-Goldwin Mayer (MGM), Louis B. Mayer, foi fundada em 11 de janeiro de 1927, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood. Na época, formou-se um grupo de 36 diretores e atores de cinema, que tinha como intuito elaborar uma premiação como forma de incentivar todos os profissionais que trabalhavam nesse ramo. A primeira edição da premiação foi realizada em 1929, com os ganhadores já previamente conhecidos antes da cerimônia. E assim foi até 1940, quando a Academia resolveu fazer a votação secreta e revelar os vencedores somente no dia da premiação.

Atualmente, cerca de 5.000 profissionais votam nas mais diversas categorias, sendo que o voto de cada um está vinculado ao ramo de sua atuação. Por exemplo, fotógrafos votam em Melhor Fotografia; montadores, em Melhor Montagem, além disso, todos têm direito a votar na categoria Melhor Filme, o que gera assim a lista dos indicados. Para esse ano foram 9 os indicados nesta categoria:

- Trapaça (American Hustle), de David O. Russel

- Capitão Phillips (Capitain Phillips), de Paul Greengrass 

- Clube de Compras Dallas (Dallas Buyers Club), de Jean-Marc Vallée 

- Gravidade (Gravity), de Alfonso Cuarón 

- Ela (Her), de Spike Jonze 

- Nebraska (idem), de Alexander Payne 

- Philomena (idem), de Stephen Frears 

- 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave), de Steven McQueen 

- O Lobo de Wall Street (The Wolf of Wall Street), de Martin Scorsese

Desses, 6 são baseados em fatos reais (Trapaça, Capitão Phillips, Clube de Compras de Dallas, Philomena, 12 Anos de Escravidão e O Lobo de Wall Street), sendo cada um com suas devidas licenças poéticas, é claro. Nota-se também uma grande mistura de estilos dentre os concorrentes, que vai desde “Gravidade”, com um orçamento de U$100 milhões de dólares e em 3D, passando pelo simples, despretensioso e em preto e branco “Nebraska”, até “Philomena”, que é uma co-produção com atores e diretor inglês, orçado em U$5 milhões de dólares. Isso sem mencionar “Ela”, que é escrito e dirigido por Spike Jonze, considerado um cineasta extremamente alternativo e fora do foco do mainstream blockbuster hollywoodiano.

O Oscar é uma premiação especificamente voltada para o mercado cinematográfico norte-americano. Só por estarem indicados, os filmes ganham maior visibilidade e um considerável aumento no faturamento de bilheteria. O que, inicialmente, era para ser um incentivo aos trabalhadores dessa área, acabou se transformando em mais uma maneira de aumentar a arrecadação da indústria de Hollywood.

De uma forma geral, os filmes indicados não apresentam grandes novidades em termos de linguagem cinematográfica. São produções que se voltam mais para as performances de interpretação dos atores e aos seus temas em si. As exceções estejam, talvez, em “Gravidade” e “Ela”. No primeiro, há a notável e inegável habilidade técnica de direção de Alfonso Cuarón, somada à primorosa contribuição dos efeitos de computação gráfica, ao viabilizar cenas e enquadramentos que parecem impossíveis de serem executados. E, no segundo, Spike Jonze nos apresenta um universo futurista com um tipo de relação muito peculiar que se dá entre um sistema operacional de computador e o seu usuário. Universo esse, que não pode ser considerado tão improvável se refletirmos a maneira como vem sendo estabelecido o vínculo entre o virtual e o real.

Os outros filmes seguem por um viés mais tradicional de estruturação narrativa e enfoque temático. Vale destacar a atuação realmente brilhante de Leonardo DiCaprio em “O Lobo de Wall Street”, principalmente na cena que envolve o uso de um certo barbitúrico com validade vencida, em que ele e seu, igualmente excelente, parceiro de cena, Jonah Hill, exibem uma das sequências mais hilárias com uso de drogas da história do cinema. “Trapaça” é um filme que, de certa forma dialoga com a produção de Scorsese, não só pela escolha do tema, formas ilegais de ganhar dinheiro, como também, pelo estilo de filmagem e interação dos atores em cena. Christian Bale está irreconhecível, com uma enorme barriga e um penteado estranho, e Jennifer Lawrence está bastante à vontade como uma neurótica e sensata esposa de um golpista. Já em “Capitão Phillips”, Tom Hanks, de protagonista vira coadjuvante quando entra em cena o grupo de piratas somali, cuja liderança é exercida pelo ator Barkhad Abdi, que apesar da pouca experiência, não deixa nem um pouco a desejar em sua sólida e convincente atuação.

“12 Anos de Escravidão” e “Clube de Compras de Dallas” são filmes que não me chamaram a atenção. Talvez, o fato de estarem indicados esteja ligado mais as questões que eles abordam do que as produções em si. A escravidão dos negros sempre será uma mancha na história do mundo ocidental, e diversos filmes já retrataram-na no cinema. No caso do enfoque de McQueen, baseado no livro do protagonista publicado no século XIX, me pareceu um tanto quanto apelativo demais. Fiquei mais interessada na história que aparece no texto ao final do filme, do que durante a narrativa apresentada. Já o filme dirigido pelo canadense 
Jean-Marc Vallée, apesar de trazer à tona uma importante questão a respeito da industrialização dos remédios para combater doenças como a AIDS, também não surpreende muito, a não ser pela incrível perda de peso do ator Matthew McConaughey.

Enfim, mesmo sabendo que o Oscar é uma premiação que envolve muitas questões de interesse dos grandes estúdios, não deixa de ser uma grande festa de celebração do cinema como uma arte que movimenta a vida de um enorme número de pessoas, seja daqueles que trabalham diretamente com ela, seja dos seus espectadores. Para quem já viu todas as produções indicadas, segue o link de um site que fez uma divertida brincadeira com os cartazes dos filmes.

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