Garapa


Este é o nome do mais novo documentário de José Padilha. Depois de Tropa de Elite (2007) ter sido premiado com o Urso de Ouro no “58º Festival de Cinema de Berlim”, Padilha volta ao cenário cinematográfico brasileiro levantando mais um debate social. Agora o seu foco está num tema extremamente cruel e duro de se encarar, a Fome. O filme foi feito em preto e branco e completamente ausente de trilha sonora. Antes da primeira exibição do documentário no Brasil, dentro da 14ª edição do festival “É Tudo Verdade”, Padilha diz que este é um filme em que o cinema por si só não importa, e sim a realidade ali impressa na tela. Porém, discordo do diretor. A escolha das imagens e a montagem se fazem presentes de modo muito forte dentro da narrativa do filme, pois as histórias das famílias se entrelaçam de uma maneira que na realidade, talvez, isso não fosse possível. E é justamente desse entrelace que conseguimos ter uma dimensão maior do que é a Fome e como ela atua de uma forma muito mais abrangente do que se pensa.

A Fome abordada no filme do Padilha, é uma fome que está ligada a pobreza não só de alimento, mas de roupas, de móveis, de educação, de saúde, de trabalho, enfim, de toda uma mínima estrutura social e humana que deveria fazer parte das vidas de qualquer pessoa. E o filme consegue mostrar isso tudo de uma forma dura e difícil de encararmos, porém, fato este que não deve ser ignorado. E acredito que o cinema, principalmente os documetários, também possuem esse papel, de termos um registro de fatos que, muitas vezes, ou são desconhecidos, ou não querem ser vistos. E tal tipo de postura artística e/ou política é de extrema importância para se levanter discussões e, quem sabe ações, que nos levem a melhorar, tanto a realidade ali mostrada na tela, como aquela que nos cerca.

No final da exibição o diretor se colocou a frente da platéia e respondeu a diversas perguntas, cujas respostas me levaram a pensar sobre uma outra questão, que é a impossibilidade de se fazer um documentário sobre pessoas sem interferir em suas vidas, e nem que elas intefiram na sua. E essa inquietação emocional pela qual se passam vários documentaristas é que faz com que suas obras sejam tão impactantes e marcantes. Afinal, a complexidade de como expor uma determinada realidade está intimamente ligada a subjetividade de quem a vê, tanto para aquele que a expõe quanto para os seus espectadores.

Comentários

Amália disse…
Larissa,

Acabei de ler sobre o documentário Garapa.
Pela sua descrição, muito interessante e intrigante.
Aliás, a fome é uma coisa inaceitável e intrigante, porque todos deveriam ter o mínimo para sobreviver, conforme você mesma relata.
Pena a gente não poder assistir na telona aqui em Vitória.
Bjs,
Amália.
Tati Reuter disse…
Lari,

Ainda não vi o filme, como cê sabe, mas tenho algumas questões aqui... acho importante que o tema seja tratado e que se dê ênfase mesmo em questões que mexem com nosso estômago, nos reviram e deixam inconformados. Mas acho também que não é isso que vai mudar o mundo ou que seja uma função latente do cinema... não sei, não acho obrigatório. O que sei desse filme é que Padilha e sua produção ajudaram as famílias nesse filme, interferiram em suas vidas e que provavelmente se refletiu ali uma realidade que não estamos acostumados. Mas o cinema tem que ser livre mesmo, pra abranger todas as esferas sociais, acredito eu... né? hehehehehe... Concordo com sua oposição ao diretor quando fala que cinema é o menos importante dessa história toda... se fosse assim, que ele entrasse numa ONG e não fizesse o filme :P

Bjim.
Concordo com as reflexões aqui colocadas. È claro que a própria falta de trilha sonora já caracteriza uma intenção, é claro que os planos, o ritmo e a montagem são escolhas e interferem no produto final, claro que sim. Mas chamo atenção para o ponto onde se debate o fato do filme ser mais importante ou não que as histórias de vida. Concordo que o cinema deve ser livre e não deve ter nenhuma função que determine seu "uso", mas há que se dar mérito às escolhas. O que vem antes do filme são as escolhas. Ele escolheu um assunto, ele poderia filmar mais uma ficção de sucesso nos cinemas e nos camelôs do Brasil. Um diretor faz filmes, um voluntário vai pra ONGs, então, se foi escolhido este tema pelo Padilha, ele está fazendo sim algo a mais que entretenimento, e neste ponto discordo da Tati, acredito sim que antes do "produto filme" existe uma história. A história existe sem o filme, mas o contrário não é possível.
Não sou a favor de levantarmos bandeiras de nada, mas quando a coisa é bem feita a gente tem q bater palma para o ser humano responsável por isso tudo e pela postura do diretor diante dessas tragédias.
Enfim, tô louca pra ver e parabéns pelo blog!
Saudades!
Pedro Tavares disse…
Garapa é um filme que preciso ver com certa urgência. Gosto muito do trabalho de José Padilha, principalmente quando se trata de seus documentários...

parabéns pelo blog.