Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo



Esta bela frase dá título ao também belo filme de Karim Ainouz (Madame Satã e O Céu de Suely) e Marcelo Gomes (Cinema, Aspirinas e Urubus). O filme está em competição dentro da mostra Premiére Brasil, do Festival do Rio 2009. Apesar de ainda não ter assistido a todos os outros 10 filmes brasileiros que estão em competição, estou apostando que algum prêmio importante o filme irá levar, quiçá o de melhor longa de ficção, ou de melhor direção.

Esses dois diretores brasileiros mostram na tela que possuem uma enorme afinidade cinematográfica, ao ponto de co-dirigirem um filme de forma admirável e ainda com uma narrativa extremamente ousada. Os dois também nasceram em cidades da região nordeste. Marcelo é de Recife (PE) e Karim é de Fortaleza (CE). E esse fato, com certeza, influenciou na escolha dos dois em fazerem um filme sobre uma viagem que perpassa várias cidades do sertão nordestino. Então, em 1999, eles juntaram uma pequena equipe e resolveram fazer essa viagem, que partiu de Juazeiro do Norte (CE), passou por Pernambuco, Paraíba, Sergipe e Alagoas. Foram registrando tudo usando uma câmera super 8, uma digital e outra fotográfica. Nessa época eles só sabiam o que queriam fazer, mas não sabiam ainda como iriam transformar aquelas imagens em um filme. Só depois surgiu a idéia de criar um personagem, um geólogo que faz essa viagem para fazer um estudo sobre a construção de um canal, e também para tentar esquecer a perda de um grande amor. Com isso, o filme ganha uma enorme abrangência, tanto na sua linguagem, pois é uma mistura de documentário com ficção, quanto na beleza do tema em si. Graças as paisagens e as pessoas que o personagem vai encontrando pelo caminho, o filme se torna um grande exercício de reflexão sobre a vida, a vida dos brasileiros, a nossa própria vida, o amor e a perda dele.

A narrativa do filme é o tempo todo em câmera subjetiva, ou seja, o ponto de vista do personagem principal. E em nenhum momento vemos quem ele é, só escutamos sua voz, a sua narrativa. Esse recurso faz com que o filme se transforme em uma verdadeira experiência para nós, os espectadores. É quase como se nós nos tornássemos aquele personagem e assim passamos a sentir o que ele sente. O filme se torna um interessante e profundo processo de introspecção. Tudo porque o nosso olhar passa ser o olhar daquele personagem. Porém, cada um irá interagir e reagir de forma diferente, pois a experiência de vida dele se mistura a experiência de vida de cada um de nós. E isso faz com que cada um construa internamente e paralelamente o seu próprio filme. O trabalho do ator (Irandir Santos), que interpreta esse personagem também é sensacional, pois suas emoções são passadas somente através da sua voz.

O filme ainda não tem previsão de data de estreia. Depois do Festival do Rio, ele será exibido na Mostra de São Paulo. Só nos resta ficar na torcida para ele entrar em circuito e possibilitar que uma maior quantidade de pessoas possam participar dessa maravilhosa experiência que o filme proporciona. Que bom que o Brasil finalmente retomou o cinema, mesmo ainda sendo muito difícil se fazer cinema no Brasil. Pessoas talentosas e apaixonadas por essa arte encorajam e estimulam todos que também admiram e querem fazer cinema, principalmente um cinema como esse, de coragem, beleza e grandiosidade.

Comentários

Marcos Luppi disse…
Quero assistir... ai que saco! Queria estar aí. rsrsrs. Imagino como deve ser dificil interpretar num longa só com a voz. Deve ser muito difícil.
Amália disse…
Larissa,

Este filme deve ser incrível!
Adorei a foto do colchão no solo seco e uma árvore logo atrás.
Vou torcer que ele chegue à Vitória.
Se chegar né!!???
Beijos,
Amália.
Anônimo disse…
Larissa,

Seus comentários me fizeram lembrar de Abril despedaçado. Acho que é um filme tão bom quanto...
Pena que não consigo ver a imgem.

Bjs!
Ivana
Allan Victor disse…
Este comentário foi removido pelo autor.
Allan Victor disse…
Tempo que não passava por aqui... bjos