Dexter



[(Momento parêntese): A proposta do blog é falar sobre filmes que estão em cartaz nos cinemas, no entanto, por inúmeros motivos, não tenho praticado idas ao cinema há um tempo considerável. Sendo assim, resolvi abrir uma exceção e escrever sobre esse seriado de TV que me cativou completamente].

Trauma. Traumatismo. Segundo o dicionário, um de seus significados é um grande abalo físico, moral ou mental; choque ou transtorno de onde se desenvolveu ou se pode desenvolver uma neurose. Sendo um pouco mais específica, um trauma está ligado a uma situação extremamente violenta vivenciada por alguém, fazendo com que essa pessoa possa vir a ter variadas formas de reação, influenciando assim em seu comportamento psíquico e suas ações perante o mundo.

Dexter é o personagem-título de um seriado de sucesso nos EUA, que estreou em 2006 e que já vai para sua sexta temporada. A história de Dexter narra que ele passou por um forte trauma que o fez se tornar o que ele é hoje, um serial killer. Quando tinha três anos de idade, ele viu sua mãe ser assassinada e picotada com uma moto-serra. Até a sua idade adulta ele não se lembrava de tal fato. Devido a chocante cena, seu cérebro bloqueou o que ele havia testemunhado. No entanto, desde muito jovem Dexter sentia um impulso incontrolável para matar. O seu pai adotivo, que era policial, percebeu o impulso do filho e resolveu direcioná-lo para o "bem", ou seja, educou Dexter para que ele só matasse pessoas do "mal". Sendo assim, Dexter cresceu e trabalha para a polícia, como um especialista forense em análise de sangue, desvendando crimes cometidos por assassinos do mal. No entanto, alguns desses criminosos conseguem escapar da polícia, e é aí que Dexter ataca. Ele vai atrás desses bandidos e os mata, se tornando assim um assassino do bem(?).

Questões morais à parte, o seriado possui uma narrativa muito bem construída e a cada temporada vamos não só compreendendo a complexidade psíquica de Dexter, como acabamos nos identificando com ele. Isso é simplesmente incrível, pois comprova o sucesso de um roteiro muito bem escrito e de um personagem brilhantemente construído, não esquecendo de mencionar a excelente atuação de Michael C. Hall, que ficou conhecido por outra série, também excelente e ligada a mortes, Six Feet Under (A Sete Palmos). Não que esse tema já não tenho sido retratado antes. Na história do cinema já houveram vários filmes sobre serial killers: Assassinos por Natureza, de Oliver Stone, Kalifornia, de Dominic Sena e Violência Gratuita, de Michael Haneke. Porém, diferente dos filmes, o seriado consegue ir mais a fundo na mente de um personagem extremamente complexo. Os assassinos em série matam não movidos por sentimentos de justiça, vingança e nem por questões políticas ou por aquilo que acreditam ser o correto. Eles matam porque precisam saciar seus incontroláveis impulsos que os levam a matar. Não há uma justificativa moral para isso. No entanto, Dexter se apresenta como o primeiro serial killer moralista, uma vez que segue determinados códigos e só mata bandidos. No entanto, o seriado não levanta tanto essa questão. O foco está voltado mais para o funcionamento da mente do protagonista e como ele lida com seus traumas, relações sociais, familiares e a sua habilidade maior que é matar.

A série é baseada no livro de Jeff Lindsay, "Darkly Dreaming Dexter", que no Brasil tem a tradução de "A Mão Esquerda de Deus". Lindsay é casado com a sobrinha do escritor Ernest Hemingway, Hilary Hemingway, que quase sempre assina como co-autora de seus livros, mas não no caso de Dexter. O livro teve uma indicação ao Edgar Award, uma premiação, organizada pelos Mystery Writes of America que foi fundada em 1945 por escritores de romances de mistério. Para a adaptação na TV, somente a primeira temporada tem ligação com o livro, as demais que se seguiram são histórias originais. Algumas são melhores que outras. Considero a primeira temporada (Ice Truck Killer) e a quarta (Trinity) as melhores, pois possuem finais surpreendentes e de tirar o fôlego. Porém, de forma geral, o roteiro é realmente o ponto forte da série, pois consegue fazer com que os espectadores torçam para que seu sanguinário protagonista nunca seja descoberto e continue matando livremente. E que venha a sexta temporada!

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