Meia Noite em Paris




Finalmente consegui retomar minhas idas ao cinema. Os contratempos externos e internos continuam (ô se continuam!), mas isso não deve ser justificativa de faltar com o meu prazer maior, que é a experiencia de ir ao cinema. Afinal, parafraseando a cantora pernambucana, Karina Buhr, o centro da terra puxa a gente, mas a gente pula contra a vontade do chão.

E quem me puxou de volta foi Woody Allen. Confesso que fui meio com o pé atrás, já que um filme protagonizado por Owen Wilson não me é lá muito convidativo. E até que Allen consegue extrair uma atuação razoável desse rapaz, afinal ele é só um diretor de cinema e não mágico. Ainda bem que o roteiro (também escrito por ele, claro) sustenta o filme, que narra a história de um protagonista nada satisfeito com a época atual que vive. A partir desse momento o filme me conquistou, pois me identifiquei com tal sentimento. Cada vez mais me sinto menos ligada ao mundo atual e todas as suas modernidades. Essa coisa toda de tecnologia touch, iPhone, iPad, TV's de LCD, LED, Plasma, Neutron, Plutônio e o escambau. Até mesmo o Windows Vista e o 7, eu odeio! Sem falar nessa febre doentia das redes sociais virtuais em que todo mundo sabe da vida de todo mundo! Ahhhhhhh... quero voltar pra Idade Média ou então para os tempos áureos do cinema-mudo (Charlie Chaplin, meu ídolo-gênio de qualquer época!). Hoje em dia todo mundo fala demais sem ter nada pra dizer.

Voltando ao filme, o personagem de Owen é um roteirista de Hollywood que resolve mudar o rumo do seu trabalho e se dedicar em escrever um livro. Ele está prestes a se casar com a personagem de Rachel McAdams, no entanto, eles se mostram pessoas muito diferentes uma da outra, principalmente nesse momento de transição em que passa o personagem do Owen. Eles estão em Paris, juntamente com os pais da noiva, para comprar coisas para a nova casa que irão morar. No entanto, o sentimento nostálgico do protagonista o transporta, literalmente, de volta no tempo. Justamente para a época que ele mais admira, Paris nos anos 20. E realmente não é nada mal. Ele encontra com grandes escritores e artistas em geral, como Hemingway, Picasso, Cole Porter, entre outros. A cena em que ele senta à mesa com Dalí, Buñuel e Man Ray é sensacional! Pois, os diálogos fazem jus a turma surrealista. A breve atuação de Adrian Brody, como Dalí, é simplesmente perfeita.

Depois de vivenciar tudo isso, não tem como ele continuar sendo um roteirista de Hollywood e se casar com uma mulher com quem não tem a menor identificação. Só lhe resta largar tudo e ir viver em Paris. Começar uma nova vida na época em que vive mesmo, porém com um novo (ou velho) olhar. Infelizmente (ou felizmente) não podemos negar o presente e o momento que estamos passando. Temos que vivênciá-lo, mesmo que não estejamos completamente satisfeitos com ele. A boa (ou má) notícia é que o momento passa e se transforma, vira uma outra coisa. Como diz a escritora polonesa Wislawa Szymborska: "Quando pronuncio a palavra Futuro, a primeira sílaba já pertence ao passado".

Comentários

Tati Reuter disse…
Leurys,

Muito bom mesmo esse filme. Vou comentá-lo mais a fundo, acabei me perdendo no tempo e não escrevi nada ainda, mas me surpreendeu bastante e Adrien Brody é realmente fantástico. Também concordo com o que você diz sobre essa cena! Acho o filme mágico e com boas idéias. E concordo totalmente com sua idéia de passagem do tempo. Inclusive, estava lendo um texto que tratava disso, dizendo que a única condição realmente existente e 'palpável' é o passado. O presente não pode ser percebido e o futuro não existe (ainda)... beijo!
Amália disse…
Lari,
Você aguçou ainda mais a minha curiosidade sobre o filme.
Ah! Adorei o primeiro parágrafo referenciando karina Bur. Ela realmente é ótima.
Merci.
À gros bisou