As Vantagens de Ser Invisível


Em 1999, o roteirista, diretor e escritor americano, Stephen Chbosky, lançou o livro “The Perks of Beign a Wallflower”. Em 2012, o mesmo Stephen roteirizou e dirigiu a adaptação de sua obra literária para o cinema, cuja intenção é fazer com que mais pessoas conheçam a história criada por ele, que é parcialmente auto-biográfica, e relata sobre o período de sua adolescência. Tal intuito lhe ocorreu pelo fato de ter recebido ao longo dos anos, desde que o livro foi publicado, inúmeras cartas de jovens adolescentes que lhe agradeciam e enalteciam o quanto tudo aquilo escrito por ele, lhes salvaram de alguma forma.

O título original do livro e do filme vale a pena ser melhor compreendido. Wallflower é um termo em inglês que diz respeito a alguém que está sem par em um baile e fica encostado na parede, alguém que está à margem do que se passa, um observador. Até que a tradução para o português ficou interessante, já que não teríamos uma palavra específica para tal expressão. Sendo assim, é possível considerar que ter um certo tipo de invisibilidade, pode realmente ser uma boa conotação para descrever um wallflower.

A época em que o filme se passa não fica muito clara. Vemos os personagens fazendo mixagens em fitas cassetes e não há a presença de computadores ou celulares. No entanto, o figurino não nos remete aos anos 70 ou 80. Talvez o uso dessa não referência de época tenha sido intencional, como forma de reforçar uma ideia mais universal de nostalgia. A fotografia também contribui, ao utilizar uma certa granulação.

A história gira em torno de Charlie, o wallflower em questão, que se prepara para ingressar no high school (ensino médio). O filme começa com a narração dele, sob forma de uma carta sendo escrita para um amigo. A sua narrativa permeia seus acontecimentos, ao mesmo tempo que acompanhamos suas reflexões. Com isso, também vamos, aos poucos, conhecendo e entendo melhor a sensibilidade, inteligência e timidez de Charlie. Sua vida muda quando ele faz novas amizades e conhece Sam e Patrick. A notável química entre os três atores é um mérito que merece ser observado. A escolha de Stephen foi bastante acertada: Emma Watson (Sam), que finalmente conseguiu tirar o estigma de sua personagem, durante anos, em “Harry Potter” (idem, 2001-2011), aparece aqui com um novo corte de cabelo e sem o seu nativo sotaque britânico; Ezra Miller (Patrick), que ficou conhecido como o personagem-título do, excelente, “PrecisamosFalar Sobre Kevin(We Need To Talk About Kevin, 2012), se apresenta agora em um papel totalmente diferente, de um jovem gay com um afinadíssimo senso de humor; Logan Lerman (Charlie), que assim como Emma, estreou nos cinemas ainda criança, em “O Patriota” (The Patriot, 2000), e está de uma forma absolutamente sublime e comovente. Enfim, esse jovens atores muito ainda prometem, dada a naturalidade e sinceridade de suas atuações.

Apesar de Charlie ser um freshman (calouro), Sam e Patrick, que já são seniors (veteranos, no último ano escolar) o acolhem em seu círculo de amizades. Sendo que, isso não seria considerado algo muito comum dentro do universo que vivem, como já foi visto em diversos filmes que abordavam tal tema. Dentre os diversos tipos de segregações existente nos high schools americanos, o grau de ensino seria um dos motivos para que os alunos não se “misturem”. Com isso, Charlie consegue ter uma vida mais sociável e menos isolada. Isolamento esse que vai tendo o seu motivo revelado aos poucos. Durante uma festa, Charlie, que fica levemente dopado, conta à Sam que o seu melhor amigo se matou no ano anterior. O que nos leva a compreender uma cena vista anteriormente dele tomando alguns remédios, que poderiam ser antidepressivos. No entanto, o foco do filme não recai sobre tal assunto. Pelo contrário, vai fluindo e é intercalado por alguns flashbacks de Charlie quando criança e de sua relação com uma tia, que era alguém de quem ele gostava muito. As imagens e recordações dele com a tia vão ficando cada vez mais recorrentes, até finalmente entendermos o motivo de tal ligação. O auge catártico das emoções de Charlie surgem quando termina o período escolar e Sam e Patrick vão para a faculdade. Tudo que aconteceu em seu passado vem à tona, somada a despedida dos seus amigos.

O ritmo da montagem do filme nos leva a uma grande emoção, ao reservar para o seu final o complemento daquilo que, de maneira surpreendente e esclarecedora, poderia ser a causa do extremo grau de dificuldade de Charlie em se expor e expressar seus sentimentos. Ao mesmo tempo, também revela o quanto ele precisa vivenciar suas relações, mesmo sabendo que não haverá garantias e que ele poderá sofrer novamente com elas. Porque, às vezes, a vida, realmente, nos afeta de um modo totalmente inesperado, no entanto, ela mesma nos mostra o quanto temos a capacidade de transformá-la em algo ainda maior, além até de nós mesmos. Pois, como Charlie diz: “nós somos infinitos!” E assim, somos embalados com a música-hino do filme (Heroes, de David Bowie), que curiosamente, teve uma regravação feita pela banda, liderada pelo filho de Bob Dylan, The Wallflowers: “we can be heroes, just for one day... / we can be heroes, for ever and ever”.

Comentários

- que indicação maravilhosa.
esses filmes em que a emoção e o diálogo são constantes sempre foram meus favoritos.

vou baixar para assistir e ai comento com você.
Quero muito ver,
voce nem imagina quanto.