A hora e a vez dos palhaços nada convencionais: “It - A Coisa” e “Bingo - O Rei das Manhãs”


Alô, alô, criançada!! Os palhaços estão de volta com tudo!! Porém, ao invés do picadeiro do circo, estão nas telas dos cinemas, e não foram feitos para as crianças assistirem. O primeiro é uma refilmagem de um cult do gênero de terror, “It: A Coisa” e o segundo é a produção brasileira “Bingo - O Rei das Manhãs”. Ambos possuem algumas coisas em comum: se passam na década de 80 e apresentam como personagens principais palhaços nada convencionais.

“It: A Coisa” é baseado no livro de Stephen King, autor americano que conta com uma vasta bibliografia, sendo quase todos na linha do gênero terror ou suspense, e ainda alguns outros sob o pseudônimo de Richard Bachman. Mais de 45 livros seus já foram adaptados para filmes, tais como, “Carrie, A Estranha” (Carrie, 1973), dirigido por Brian De Palma; “O Iluminado” (The Shinning, 1980), com direção de Stanley Kubrick; “Um Sonho de Liberdade” (The Shawshank Redemption, 1994), dirigido por Frank Darabont, sendo inclusive, indicado ao Oscar de Melhor Filme.

A primeira adaptação de “It” foi feita em formato de minissérie para o canal televisivo americano ABC, em 1990. Com duração total de três horas e doze minutos, a produção foi dividida em duas partes. Em 1960, sete crianças se juntam em grupo para combater uma entidade em forma de palhaço chamado Pennywise. Isso porque diversas crianças começam a desaparecer misteriosamente na fictícia cidade de Derry. O intitulado “Grupo dos Perdedores” resolve investigar e acaba descobrindo “It”, que passa a fazer aparições assustadoras sob diferentes formas para provocar o medo nas crianças, sendo esta a emoção que lhe alimenta e dá força. Vinte e sete anos depois de ser derrotado, o palhaço reaparece e o grupo reúne-se novamente para combatê-lo. Agora todos são adultos, porém não esqueceram o que passaram quando crianças.



O filme de 2017 foi dirigido pelo argentino Andy Muschietti (de “Mama”, 2013). O roteiro faz, acertadamente, os devidos ajustes para conseguir fisgar o público atual. A narrativa acontece nos anos 80, o que traz uma sensação nostálgica dos filmes dessa época. Bem como a trilha sonora, que contempla bandas como The Cure, New Kids on the Block e Anthrax. A escolha dos atores também não poderia ser melhor. O grupo das crianças/adolescentes é super afinado e ainda conta com Finn Wolfhard, o Mike de “Stranger Things” (série de terror da Netflix  também ambientada nos anos 80). Pennywise é interpretado pelo ator sueco Bill Skarsgård que conseguiu desenvolver o personagem de uma maneira muito particular, elaborando um jeito de falar com o lábio inferior apontado para frente. O resultado é uma expressão assustadora, bizarra e divertida de se ver.


Algumas pessoas consideraram o filme um lixo e outras amaram. Independente das opiniões, é preciso reconhecer que a produção está muito bem dirigida e roteirizada. E ainda conta com uma fotografia primorosa, do visionário diretor de fotografia sul coreano Chung-hoon Chung, que já trabalhou nos filmes do Park Chan-wook (“Old Boy”, “Lady Vingança”, “A Criada”). 

O outro palhaço de sucesso no cinema atualmente é “Bingo - O Rei das Manhãs”. O filme narra a história do ator Arlindo Barreto, que viveu Bozo no SBT entre os anos de 1982 a 1986. O ator era viciado em cocaína e bebida alcóolica. Devido a questões de direitos autorais e artísticos, o nome do personagem foi modificado para Bingo, e Arlindo Barreto virou Augusto Mendes. Vladimir Brichta interpreta, de maneira brilhante e surpreendente, o ator e palhaço que levou a emissora ao primeiro lugar na audiência.
 

O filme marca a estreia na direção de Daniel Rezende, que já foi montador nos filmes do José Padilha, “Tropa de Elite 1 e 2”, “Cidade de Deus”, do Fernando Meirelles e “A Árvore da Vida” (The Tree of Life), de Terrence Malik. Daniel mostra uma habilidade notável na direção, apresentando longas cenas muito bem orquestradas e se ajustam perfeitamente a narrativa, uma vez que, as gravações do programa feitas em estúdio eram ao vivo. O recurso de evitar o corte contribuiu muito para transmitir uma verossimilhança ao ritmo do filme, deixando os espectadores completamente imersos ao universo de se fazer um programa ao vivo na TV.


Destaca-se também o trabalho de direção de arte de Cassio Amarante, que conseguiu ambientar o filme na década de 80, desde a decoração das casas até o estúdio do programa. Inclusive as câmeras utilizadas eram de verdade e realmente funcionavam. Fechando com chave de ouro, o filme ainda contempla a fotografia, sempre impecável, de Lula Carvalho.

Além de Brichta, que merece o devido reconhecimento por um trabalho, que com certeza ficará marcado em sua carreira, o elenco do filme é composto por Leandra Leal faz Lúcia a diretora do programa. Augusto Madeira é o câmera do estúdio, e quem sempre acompanha Augusto pelas noitadas afora. Ana Lúcia Torre, é a mãe dele, que também foi uma famosa atriz de TV nas décadas de 60 e 70. Na vida real a mãe de Arlindo foi Márcia Barreto, ou Márcia de Windsor, apelido dado por Sérgio Porto, por considerá-la uma mulher de muita classe. E o filme traz ainda uma participação especial do ator Domingos Montagner, deixando todos com um sentimento de pesar pela morte acidental durante a gravação de uma novela na Globo. Domingos tinha uma formação em “Clown”, que é uma técnica de aprendizado para os atores que pretendem desenvolver as nuances da comédia e do humor, bem como o corpo cênico e gestualidade. Ele fazia parte de um projeto denominado “La Mínima”, onde fazia dupla com Fernando Sampaio, e este trabalhou como preparador de Vladimir Britchta para o filme.

O roteiro foi desenvolvido de forma crescente, iniciando quando Augusto/Arlindo era ator de filmes de pornochanchadas. Sua tentativa em entrar na emissora “Mundial”, que pelas referências, deixa claro ser a Globo. Ainda mais tendo Pedro Bial nesta cena. A aprovação no teste para o palhaço Bingo/Bozo, que é na verdade uma criação importada dos EUA e virou uma espécie de franquia em diversos países. O árduo processo de adaptar o tom certo de humor para as piadas junto ao difícil público infantil brasileiro. O sucesso absoluto de Bingo/Bozo. E finaliza com o conflito máximo entre a pessoa e persona. 

Ouso dizer que “Bingo” é o melhor filme brasileiro de 2017, tanto que foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para ser a produção indicada a concorrer ao Prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira no Oscar 2018.


FICHA TÉCNICA

Filme: It - A Coisa
Diretor: Andy Muschietti
Roteiro: Chase Palmer, Cary Fukunaga, Gary Dauberman
Produção: Seth Grahame-Smith, David Katzenberg, Roy Lee, Dan Lin, Barbara Muschietti
Fotografia: Chung-hoon Chung
Distribuição: Warner
País: EUA
Duração: 2h15min
Ano: 2017

Filme: Bingo - O Rei das Manhãs
Diretor: Daniel Rezende
Roteiro: Luiz Bolognesi
Produção: Caio Gullane, Fabiano Gullane
Fotografia: Lula Carvalho
Distribuição: Warner
País: Brasil
Duração: 1h53min
Ano: 2017

Comentários

Unknown disse…
Eu acho que o palhaço mais assustador é Pennywise. Eu gosto dos livros de Stephen King e sempre vi os filmes de seus histórias. Acho que é uma boa idéia fazer este tipo de adaptações cinematográficas. Amei desde que eu vi o trailer do filme It 2017. Li o livro em que esta baseado faz alguns anos e foi uma das melhores leituras até hoje. Andy Muschietti foi o diretor responsável do filme e fiquei muito satisfeita com o seu trabalho, além de que o elenco foi de primeira. De verdade, adorei que tenham feito este filme. Cuida todos os detalhes e como resultado é uma grande produção.